sábado, 28 de abril de 2012

Dark Horse (2011) de Todd Solondz


Estou farto de Solondz tanto quanto este parece estar farto de nós, pessoas. Neste momento da sua carreira, ele parece estar farto do mundo mais por preguiça do que por convicção, isto é, convém que um Solondz movie viva sempre desse estranho "tédio divertido", contudo, o que convém nem sempre é o que deve ser... É que o escárnio, que, num "Happiness", desconcertava - e chocava -, aqui apenas chateia, acabando por se virar "contra si", como uma horrenda bad joke - que também choca, mas apenas pelo embaraço que provoca. Depois desse autêntico AVC cinematográfico que foi "Palindromes", Solondz, que continuava como que a desculpar-se por não conseguir justificar os seus primeiros sucessos de crítica - daí não ter aquecido nem arrefecido com "Storytelling" -,  resolve tapar, com mais uma boa camada de maquilhagem pop depressiva - estilo soap opera de maníacos -, todo uma pretensiosa acumulação de nada em "Life During Wartime", filme que saiu directo em DVD cá em Portugal (e, sabe-se lá como, foi parar ao catálogo da Criterion Collection, de facto, "na melhor toalha...").

A entrada em cena de fantasmas existenciais (vide Paul Reubens, aka Pee Wee Herman, no dito filme), quais anjos da guarda malditos dos protagonistas falhados, parece ter sido o novo dispositivo dramatúrgico que este realizador americano desencantou  (eureka!)  para regenerar toda uma carreira - porque o restante freak show doentio, comédia offbeat, levemente apimentada por uma certa "visão da América", sabe, de novo, a "Happiness" requentado. Solondz recebeu os incentivos de alguma crítica - aquela que ainda insiste... - como a luz verde para avançar em direcção a este "Dark Horse", milésima variação solondziana sobre o "patinho feito" num mundo de patinhos feios, tão ou mais feios do que ele... Tudo muito awkward - agora, "controladamente" awkward, claro, porque "Palindromes" foi um pesadelo para todos... - e tudo muito auto-lamentatório - estilo existencialismo de retrete. Não, definitivamente, eu cá deixo de apostar neste cavalo. A corrida, caro Solondz, acabou. Mas, felizmente, o cinema, o grande cinema, não sofre muito com as sucessivas, e enganadoras, falsas partidas deste wonder boy (has been) do indie trash, pós-muito-pós-John Waters.

("Dark Horse" foi exibido hoje no IndieLisboa. Como já mereceu honras de abertura do festival, não haverá reexibição. Uma boa notícia, portanto.)

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