quarta-feira, 5 de março de 2008

Changing


Em “Zelig” (1983), um "falso-documentário" de Woody Allen, o protagonista Leonard Zelig, numa ânsia de querer permanentemente agradar, começa a assumir características não só físicas como psíquicas e intelectuais daqueles que o rodeiam.

Hillary Clinton reconquistou, ontem de madrugada, na "Super-Terça-Feira II", o momentum que perdera desde New Hampshire. Depois de doze derrotas consecutivas, ganhou nos importantes estados de Ohio e Texas, sendo que neste último, onde houve primárias e caucus, a luta com Obama foi renhida até ao último instante. O voto da população latina - "a que fala latim", disse uma vez George W. Bush - do Texas terá sido decisivo para a vitória da ex-primeira-dama de Bill Clinton, aquele que foi, diz-se com graça, "o primeiro Presidente negro dos Estados Unidos".

Barack Obama, por sua vez, parece estar a perder algum fôlego face à máquina eleitoral de Clinton, que tem mais dinheiro e gente influente ("lobistas"?) a apoiá-la. Obama, que já foi acusado de ser "pouco negro", deverá extremar, nos próximos tempos, os ataques contra Hillary, que já foi criticada por ser "pouco feminina", e tentar cativar finalmente o "coração" do eleitorado latino, ainda que o seu discurso de ontem, a insistir em assuntos como a educação ("pôr um livro na mão de uma criança, em vez de um videojogo"), a guerra no Iraque e a imagem da América no mundo, continue a ter como principal alvo o eleitorado jovem, qualificado e de classe média. Com um empate problemático no horizonte (que só será desfeito numa obrigatoriamente polémica Convenção Nacional Democrata, a realizar entre 25 e 28 de Agosto), os dois candidatos apressam-se a plasmar na sua imagem todos os micro-elementos que fazem da América um melting pot cultural.

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