Não me considero uma pessoa cheia de certezas, mas ninguém me demove da ideia de que "Assault on Precinct 13" (1976) é simplesmente um dos melhores filmes de sempre. Ponto. Foi a primeira obra de referência do maior cineasta vivo, John Carpenter, e funciona como o mais perfeito embrião de toda uma filmografia.
Sob influência das matrizes clássicas de Hollywood, o cinema de John Carpenter mistura a cadência de um Howard Hawks com uma visão desoladora sobre o presente-futuro da humanidade. As suas personagens encontram-se habitualmente confinadas a espaços claustrofóbicos e expostas a uma ameaça constante e indeterminada.
O medo é filmado através da sugestão e o inimigo é quase sempre indefinido: ele tanto pode morar lá fora como dentro de nós. A ideia de que o homem alimenta, autofagicamente, o seu próprio o fim faz escola no cinema de Carpenter - herança de um Anthony Mann?
Na senda de tudo isto, a história de "Assault on Precinct 13" desponta em quatro direcções: um polícia presta-se a assegurar o encerramento de uma esquadra; um carro com perigosos marginais anda à deriva pela cidade; um presidiário de alto risco, de nome Napoleon Wilson, é transferido entre duas esquadras; um pai e a sua filha circulam nas estradas sempre inseguras de Los Angeles.
O cenário é de convulsão: os tiroteios envolvendo a policia e gangs armados repetem-se e o risco de se mergulhar na total anarquia intensifica-se (não vamos por aí, mas não será por acaso que um dos "terroristas" do filme tenha na cabeça uma boina à Che Guevara... - deixamos escapar esta, estás perdoado Carpenter). O homicídio totalmente arbitrário daquela menina inocente, que apenas queria comer o seu gelado, é o "acender de pólvora" de toda a narrativa. Espécie de episódio-charneira que liga as pontas soltas da história.
As referências ao western são evidentes: desde a forma como Carpenter filma as movimentações rumorejantes do gang, a lembrar os índios de John Ford, até à virilidade que Carpenter inculca na personagem de Napoleon Wilson, próxima da de um John Wayne. Acima de tudo, "Assault on Precinct 13" marca a primeira desconstrução do clássico "Rio Bravo" (1959) por Carpenter (depois deste, fez vários "filmes de cerco", de "The Thing" a "Pro-Life", um dos dois filmes que realizou para a série de terror "Masters of Horror", passando pela sua última obra-prima, "Ghosts of Mars").
Em "Assault on Precinct 13", estamos no auge do cinema atmosférico, próximo do terror, de um equilíbrio visual intocável, com uma câmara clássica, plena de elegância e robustez, auxiliada pelo formato scope, que empresta à história um horizonte visual único. O trabalho de realização está também em perfeita sintonia com a trilha sonora que, como se tornou regra no seu cinema, é composta pelo próprio John Carpenter: minimal, agressiva e absolutamente viciante.
Ler mais aqui: IMDB.
2 comentários:
O melhor filme de Carpenter e um dos melhores filmes de sempre. Digo sem medo de falhar, uma OBRA-PRIMA.
Obra Prima e o inicio de uma grande carreira
Enviar um comentário