quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Sangue do Meu Sangue (2011) de João Canijo (II)


Não sei se fui claro na minha crítica a "Sangue do Meu Sangue", mas o que, em termos simples, quero dizer, ou melhor, quero tornar mais claro para a malta que só percebe o cinema em "taglines" ou frases monossilábicas "de crítico" para colar em cartazes, é o seguinte: não vejo, de modo algum, "Sangue do Meu Sangue" como o filme mais "português do mundo" ou mais "português" que os outros filmes portugueses, ou que mostra a realidade portuguesa tal como ela é - só falta dizer "na sua pureza" - ou outro tipo de formulações ligeiras e algo patrioteiras que tenho lido por aí... "Sangue do Meu Sangue" é tão português como "A Esquiva" é francês, como os filmes de Brillante Mendoza são sobre as Filipinas.

Joga-se bem para lá do bairro Padre Cruz/realidade sócio-económica das periferias de Lisboa, bem para lá da nossa especificidade cultural, na realidade, "Sangue do Meu Sangue" é um filme desenraizado pelo seu dispositivo áudio/visual - é ele que faz ascender o último filme de Canijo à tal "universalidade" que refere o próprio cineasta na entrevista que deu no Câmara Clara. A especificidade portuguesa é a sua falta de especificidade no mundo global ou glocal ou, se preferirem, mediaticamente rendilhado (mise en abyme permanente).

Nesse sentido, um filme como "No Quarto da Vanda" é intensamente mais português do que este filme de Canijo - desde logo, a presença constante de "ecrãs", de "ecrãs de ecrãs" ou de "caixas de ressonância sonoras" (os tais "planos sonoros" que refiro no último comentário) puxam-nos permanentemente daquele meio pequeno, para um MEIO maior, que é, enfim, o mundo no seu conjunto, o mundo do Mundial de Futebol, o mundo da Internet e o mundo replicado ad eternum das emoções humanas, o verdadeiro primeiro traço de globalidade no cinema. Se queremos abraçar esta experiência, é importante superarmos as etiquetas banalizadoras - é essa a minha crítica à crítica, mesmo à que gostou tanto ou mais do que eu deste último filme de Canijo.

1 comentário:

Wellvis disse...

Adorei "Noite Escura" mas agora para ver este, fora de Portugal, vai ser tarefa dura...

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