"Citizen Kane" (1941) de Orson Welles
Jalsaghar (1958) de Satyajit Ray
[Não gosto nada de emparelhar uma imagem de "Citizen Kane" com qualquer outra imagem de outro filme - devia ser uma superstição em qualquer espaço que se queira Cinéfilo... -, mas aqui abro uma excepção perfeitamente justificada pela grandiosidade poética da experiência que ocupa este "Salão de Música". Obra deslumbrante que rima com o clássico de Welles como uma (já denunciada pelo still) "imagem invertida": se o magnata fietzgeraldiano Kane olha para a bola "mágica" e sonha com a sua infância pobre, o senhor Huzur Bishwambhar Roy, outrora homem de grande fortuna e influência, hoje caído em desgraça, encontra no seu (último) copo de vinho a imagem de um passado feliz que lhe fulmina o espírito como uma tempestade seca de raios: o magnificente candeeiro de cristais do seu "salão de música", onde em anos passados os mais brilhantes músicos e performers indianos deram azo à sua Arte, para regozijo do real anfitrião. O magnata americano, o self-made man dos mass media, sonha com a pobreza; o último espécime da tradicional "realeza senhorial indiana" suspira e paralisa ante as notas lânguidas de música que ainda reverberam nos quatro cantos do grande salão empoeirado.]
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