segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Por uma crítica da crítica, por uma contra-crítica (de novo)

O crítico de "Lady in the Water" (2006) de M. Night Shyamalan

No outro dia li algures um comentário de um cidadão que se mostrava indignado com outro comentário de outro cidadão, por este estar a criticar uma crítica... A crítica, que deve ser mais do que um comentário - mas também, na Internet, todos sabemos que há comentários que se confundem com análises críticas -, era do agrado de um e do desagrado de outro. Esta teve o mérito de produzir dois discursos no espaço de pouco tempo. O filme, no centro, funcionou como motor desta inusitada triangulação argumentativa. (O filme funcionou como motor, ou melhor, só funcionou exactamente enquanto se abastecia da energia que emanava dessa agitação intelectual além-sala.)

Acredito piamente que os filmes servem tanto para ser criticados quanto as críticas que deles decorrem. É o pensamento em torno do cinema que oferece discussão e contra-discussão e é desta dialéctica - cada vez mais espontânea e, para os mais conservadores, incómoda - que se pode solidificar o discurso, mas sempre um discurso que age não sobre, mas sob o filme ou a obra em questão. Ela mantém-se - e tem de ser assim - intocada pela crítica, mas não é - e não pode ser - completamente indiferente a todas as críticas e comentários a críticas que se trocaram antes de si sob a cúpula de outros filmes. A crítica e a contra-crítica fazem então parte de uma dança infernal que projecta novos filmes e novas danças.

Gostos sobre filmes não se discutem? Discutem-se, discutem-se os gostos, a forma como os sabemos ou não articular, etc.: o que não se discutem são os filmes*.

* - Salvo, está claro, se estiver em cima da mesa a legitimidade da obra.

PS: Dedico este post, obviamente, a todos os "opinion makers" profissionais que gostam de malhar na blogosfera pela "inanidade geral" e nos media pelo seu "déficit democrático", mas que depois não toleram - banem, aliás, dos seus espaços... alguns deles os mais redondamente blogoesféricos - uma argumentação, por menos implicativa que seja, com um leitor. Fazem-me lembrar aquela história do Groucho Marx: "Eu nunca faria parte de um clube que me aceitasse como sócio". Agora é experimentarem a carapuça para ver se serve ou não.

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