sábado, 10 de março de 2012

Deus ex machina VI: barbear


Aqui, peço ao caro leitor que faça raccord entre o primeiro e o último stills desta série, gerada aleatoriamente pela aplicação LinkWithin. Harrison Ford sai, agitado, do seu quarto de hotel em Paris, tentando perceber a quem terá respondido a sua mulher à porta, enquanto aquele cumpria as rotinas diárias de higiene. Ele sai do quarto de hotel com a espuma de barbear no rosto. No último still, comparo os irmãos Safdie e Cassavetes e encontro esta (dis)semelhança pansignificativa: se chez Safdie a gillette é o que se usa para barbear, chez Cassavetes as máquinas de barbear colhem a preferência - uma questão de "à vontade" financeira, claro, mas não só... Mas o que dizer desta conjunção movida pela necessidade, uma necessidade estética e higiénica? Na minha opinião, é assaz irónica, estando nós, aqui, no terreno do cinema.

Já repararam que, nos filmes, só muito raramente uma personagem que se começa a barbear termina essa tarefa tão terrena? Não estou só a pensar em "My Darling Clementine", estou a dizer muito axiomaticamente isto: no cinema, ao homem é subtraído o direito de terminar algo que o vemos começar e esse algo é muito dele - não me lembro de semelhante interrupção, muito ou pouco grotesca, infligida sistematicamente às personagens femininas. Contudo, de rosto semi barbeado, repleto de espuma ou não, ridículo sempre, o homem lá vai prosseguindo com o plot. Muito prático, muito ready-to-go.

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