sábado, 3 de março de 2012

Recorte de falas (XVI): Juvenile Court

Numa sociedade católica até à medula, o que é estranho nesta resposta de um menor, Tommy, acusado de ter abusado sexualmente de uma menina ainda bebé? A resposta é um exercício - tipo teste de Rorschach, mas sem borrões, só com questões de aferição psicológica - e, como nos apercebemos mais à frente, ele "chumba" nesse exame. Chumba pelas primeiras duas respostas-desejos ou pela terceira? Direi que a terceira é de um racionalismo - de um pragmatismo - que choca com a exposição fundamentalista de fé - quase uma jihad católica - que se apresenta como desejo íntimo, profundamente íntimo, do rapaz, uma cabeça que mais tarde o juiz tem por "perturbada". "Sim, certo, todo o mundo católico; todo o mundo a portar-se como um "bom católico", mas, ainda assim, concedei-me, Deus ou Génio da lâmpada, mais um desejo: ter direito a mais três desejos". A resposta esconde a realidade psíquica do rapaz, parecendo traduzir o refúgio deste por trás da imagem-tipo, socialmente bem vista, do "bom católico" - é a espiral do silêncio a funcionar no sentido de outra espiral, a da loucura (termo pouco clínico que não vou agora procurar corrigir ou precisar). "E que três desejos mais pedirias?", talvez depois desta interrogação - que não vemos ser formulada - viessem as questões que interessavam ao tribunal mais do que ninguém. E, em "Juvenile Court" (1973), obra-prima de Frederick Wiseman, falamos sempre no contexto de um tribunal de família e menores - definitivamente, não um lugar qualquer...

Psicólogo: If you have three wishes what would you wish for?
Tommy: Let's see... That everyone believe in God.
Psicólogo: What else?
Tommy: That everyone would go to church.
Psicólogo: Anything else?
Tommy: And... that I had three more wishes.

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