sábado, 10 de março de 2012

Jazz e heroína

"The Man with the Golden Arm" (1955) de Otto Preminger

"The Connection" (1962) de Shirley Clarke

[Foi Preminger quem pôs o problema das drogas, especialmente, os efeitos do uso da heroína, na agenda do cinema americano. Contudo, foi Shirley Clarke quem conseguiu abordar o mesmo assunto desembarando-se totalmente de todos os (maus) tiques e o melodramatismo moralista do cinema clássico. Foi um prazer e um choque ver, em cópia nova (obrigado, Cinemateca Portuguesa), "The Connection", espécie de "falso-documentário" que se desenrola num apartamento habitado por junkies, pretos e brancos, jovens e mais velhos, músicos jazz ou ouvintes jazz, cujas vidas se gastam na espera pelo dealer, apelidado sem ironias de cowboy (= um negro cheio de pinta, pose real, óculos escuros e todo ele vestido de branco, qual santo suburbano...). Preminger e Clarke, de modos distintos, fazem a mesma mistura: jazz e heroína. Contudo, se no primeiro caso, o jazz surge como antídoto da droga (para largar o vício, a personagem de Sinatra agarra-se ao sonho de ser baterista numa banda jazz...), no segundo caso, a música é alimentada, high high, pelo efeito de casa dose (fix). A música con-corre nas veias massacradas dos protagonistas com a devastadora heroína anti-clássica: a droga, primeiro tabu quebrado por um certo cinema moderno, que já é, por natureza, de estilo jazzístico.]

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