sábado, 5 de maio de 2012

Los Angeles Plays Itself (2003) de Thom Andersen


Não é o filme ensaístico que podemos esperar, se estivermos a pensar em nomes como Godard ("Histoire(s) du cinéma") ou Chris Marker ("Sans soleil"). Mais do que um filme ensaístico este é, muito literalmente, um filme-ensaio, isto é, obra baseada num texto, moldada por um rigor que adjectivaria de académico, porquanto tem na base a defesa de uma tese. Que tese? Segundo Thom Andersen, a cidade de Los Angeles tem sido objecto de inúmeras traições ou apropriações abusivas na história do cinema americano. Existe como que um desfasamento - nada inocente, pelo contrário, nitidamente ideológico - entre o que é a cidade e o que Hollywood diz que esta é.

Durante perto de 3 horas, Andersen percorre um século de filmes, rodados em L.A. ou alusivos à "cidade dos sonhos": de "Public Enemy" (passado em Chicago, mas filmado em Los Angeles) a "Blade Runner", passando por "Escape From L.A." ou "To Live and Die in L.A.", desenterrando obras esquecidas (magníficas) de Burnett e MacKenzie (um "pioneiro", como diz e bem, reportando-se ao belo "The Exiles"). Andersen faz uma montagem "arqueológica" de imagens, que se articulam seguindo o conteúdo do texto, que é lido em off. Este dispositivo, pouco imaginativo, aguenta a duração do filme, sobretudo, porque, precisamente, este é um ensaio inteligente e enriquecido por várias pequenas observações preciosas.

O trabalho de investigação de Andersen será tão exaustivo que, se juntarmos a ele o paradigmaticamente fiel à cidade "Los", do seu amigo James Benning, parece que fica pouco espaço para nos surpreendermos muito com, por exemplo, um livro como este (ainda não lançado), mesmo que escrito por um interessante estudioso do papel das cidades na história do cinema. Esgotado um tema, defendida a tese, Andersen dá-nos, assim, uma grande lição sobre o poder (de)formador das imagens. Seria interessante pensarmos melhor este modelo analítico e expositivo, o modelo do filme-ensaio tout court, na (nossa) academia.

(Este filme foi mostrado hoje no IndieLisboa, na secção de homenagem aos 50 anos da Viennale. Seria importante editar em DVD/Blu-ray esta obra pedagogicamente relevante.)

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