segunda-feira, 28 de maio de 2012

O cinema na RTP2: estrada para nenhures (sem destino)


Para onde nos leva a estrada de "Road to Nowhere" ("Sem Destino", em português)? Que estrada é essa? Que "nowhere" é esse que não, talvez, o "now here" da produção de um filme dentro de outro? O filme de Monte Hellman é um enigma sobre o cinema, que aponta num sentido - indefinido - que parece levar a lado nenhum para lá do que as suas imagens e encenações/associações "en abîme" nos oferecem. Mas e se esta "road" nos levasse a 1959, ao filme que terá lançado, oficialmente, as bases da Nouvelle Vague? A RTP2 diz-nos que o caminho de Hellman tem como destino "Os 400 Golpes", pelo menos, deixa isso implícito no seu double bill agendado para a "Sessão Dupla" do próximo sábado, dia 2 de Junho.

A surpresa não é grande, porque nas suas noites de cinema têm-se celebrado os mais inusitados casamentos cinematográficos sem que se preste a mínima explicação - bem, de facto, o amor verdadeiro é incomunicável e, se calhar, estes casamentos são arrebatadores acessos de paixão que confirmam o popular adágio "os opostos atraem-se". O que muda desta vez? Bem, talvez, o facto de o título do primeiro filme parecer comentar, com grande astúcia, a estrada que esta RTP2 tem percorrido, uma estrada para lado nenhum, a começar pela programação de cinema, que surge aqui, transparente, na sua política de ataque a tudo o que implica critério, reflexão e pedagogia.

Se não soubéssemos já que o programador "força" casamentos entre filmes por motivos puramente comerciais ou por expressa falta de cultura cinéfila, socorrendo-se do mais automático método randômico que há no mercado para "lançar ao ar" (antes de "pôr no ar") as suas sessões de cinema..., diríamos que este double bill, "Road to Nowhere" e "Os 400 Golpes", tinha o potencial para provocar o lançamento de, pelo menos, dois livros com algumas das mais espantosas revelações sobre a história do cinema e um punhado de reflexões inovadoras sobre a ontologia da imagem. O problema é que, nesta altura, já sabemos o que sabemos.

A confiança em quem programa é nula. E, por isso, este double bill não passa de um disparate completo a somar-se a tantos outros. Contudo, a autoria é dos mesmos de sempre, de uma pequena elite, que trabalha sem regulação, indiferente à crítica, ou melhor, que inclusivamente faz carreira a desprezar a opinião de quem dela não faz parte, de quem "não vê" o que eles "querem ver": um canal de serviço público naquele lugar que separa a RTP1 da SIC. Um lugar de poucos (para poucos) e, enfim, uma estação que não quer ir muito mais longe do que o lado nenhum onde que está. Elitismo no, já nu e pelo vazio.

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