quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Catch-22 (1970) de Mike Nichols
"Catch-22", filme demencial como poucos sobre o absurdo da guerra, exercício visual que parece ir beber à feição mais tresloucada das novas vagas (exemplo de "Bariera" de Skolimowski ou dos filmes de Jíri Menzel ou Chytilová), ao mesmo tempo que procura afundar ainda mais o negrume de um "Dr. Strangelove". Esta obra-prima de Mike Nichols, ao pé da qual "MASH" é um filme insosso, condimenta assim o contexto da II Guerra Mundial, disputada a partir de uma base aérea virada para o Mediterrâneo, uma "concentração" de militares que, sem hesitar, se consideram "idiotas" e que, por isso, de acordo com o Artigo 22, não podem ser considerados "inaptos para voar" pelo departamento médico, que os vai mantendo assim disponíveis para, como carne para canhão, serem lançados em sucessivas missões mais ou menos sem sentido, mais do que menos suicidárias, além-Mediterrâneo - apesar de algumas bombas lançadas para o mar lhes valerem uma medalha ao peito!
O protagonista, interpretado pelo grande Alan Arkin, alega insanidade mental para não voar mais, mas não vê o seu pedido satisfeito, por causa precisamente do tal Artigo 22, que estabelece a seguinte norma: qualquer militar que se diz incapaz de combater por razões de saúde mental, está apto a combater, pois revela sanidade suficiente para alegar que não está apto a combater. Ou seja, quem não pede dispensa - e está demente - encontra-se habilitado a voltar para casa, o que não acontecerá pois não pediu dispensa - porque se pedisse... etc. e etc.
O que Mike Nichols vai desmontando a cada minuto é o grau de loucura já presente na estrutura que administra todo o esforço de guerra, na realidade, e muito acerbamente, o que nos vamos dando conta é da natural, logo, diríarmos, muito humana - sã patologia? - degenerescência mental dos militares inseridos num sistema que perpetua a lógica perversa vertida, logo de raiz, na sua própria normatividade, como uma ideologia do caos e da insanidade que vê na guerra lugar perfeito para a sua legitimação moral. O que, penso eu, Mike Nichols procura "espantar" com esta poderosa sátira anti-guerra é que não se pode vencer a imoralidade da guerra com a moralidade da Paz; para se "digerir" os tempos mais ou menos mortos do conflito e amortecer os efeitos desumanizadores de uma situação-extrema a melhor via é começar por se falar na mesma língua. Por isso é que qualquer espectador normal sairá desconCertado e desconSertado com a linguagem (de forma e conteúdo) que se ensaia em "Catch-22".
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1 comentário:
Comprei este filme recentemente, por um óptimo preço :)
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