"Wanda" (1970) de Barbara Loden
Vistas que estão as escolhas nacionais, sugiro passar rapidamente os olhos por algumas escolhas de especialistas internacionais. Aqui pus em destaque os nomes que, logo à partida, me despertaram maior curiosidade. O primeiro, pela sua bizarria, que gostava de mencionar nestas linhas é o filósofo esloveno Slavoj Zizek. A sua lista está para o top final da Sight & Sound um pouco como a pintura da Sra. Cecília está para o agora famoso "Ecce Homo" que tentou "restaurar". O "mau gosto" é, contudo, assumido, já que o critério adoptado foi só seleccionar "guilty pleasures". Ainda assim, um grande filme como "Fountainhead" de King Vidor sobressai notavelmente, na medida em que merece aqui o seu único - e justíssimo - voto em toda a sondagem.
De resto, temos um western menor, recentemente "refeito" (a meu ver, com sucesso) por James Mangold, o fracassado "Dune" de David Lynch, o bem piroso "The Sound of Music", o falhado "On Dangerous Ground" de Nicholas Ray e Ida Lupino, o esquecido (mas excelente) "Nightmare Alley" e... bem, a partir daqui a coisa desce ao nível do espalhafatoso e entediante "Hero" e, agarrem-se bem!, "Hitman", thriller político de acção realizado por um tal Xavier Gens - adaptação quase intragável de um jogo de computador com o mesmo nome. Não falo dos restantes, que não vi, mas fica aqui pintado uma espécie de "cristo de Slavoj Zizek" que a Sra. Cecília não precisava de "restaurar".
Fora a bizarria mais ou menos assumida por Zizek, destaco a lista de Adrian Martin, não tanto pelos filmes - alguns deles admiro muito, um ou outro ainda não vi, mas fiquei com vontade de ver... - mas pelo critério que engenhosamente "tirou da cartola" para responder a desafio tão difícil. O crítico australiano decidiu nomear apenas filmes que viu nos últimos dez anos, fazendo assim um refresh total em relação a exercícios anteriores.
Na sua lista há um título, que gosto muito, e que também consta do outro top que queria destacar aqui: "Wanda" de Barbara Loden, um dos filmes melhor recuperados dos últimos anos. Também gosto de ver no top de Ray Carney "Killer of Sheep" e um dos meus filmes independentes norte-americanos preferidos do passado recente, "Old Joy" de Kelly Reichardt. Contudo, o critério adoptado por Carney é, na minha opinião, infeliz. O académico norte-americano decidiu só nomear filmes do seu país, diz ele, para reverter o mito segundo o qual "nenhuma mulher ou homem pode ser profeta no seu próprio país". Já acho muito discutível que os portugueses sondados tenham referido filmes nacionais, agora, assumir esta espécie de visão imperialista ou totalitária da história do cinema parece-me ainda mais questionável, ainda para mais, vinda de um académico...
Como grande admirador dos vídeo-ensaios ou vídeo-apresentações que Tony Rayns tem feito para a editora britânica Masters of Cinema, registo na minha "wish list" cada título asiático por ele referenciado. Fiquei especialmente a salivar por um filme com o título bem expressivo "Textism" de Hirabayashi Isamu, que, segundo Rayns,"stands for a vein of iconoclastic avant gardism that stretches from Robert Florey to Kenneth Anger and Hollis Frampton." Também para amantes do cinema asiático, a lista de Chris Fujiwara constitui um contributo importante, citando um Naruse, um Ozu, um Mizoguchi e o mais recente, e muito bom, "Memories of Murder" do sul-coreano Bong Joon-ho.
Mais tops mereceriam destaque, mas penso ser importante deixar o que sobra à descoberta do leitor. Não quero é fechar este assunto sem apontar algumas ausências que tenho como significativas: David Bordwell, Jacques Rancière, Jacques Aumont, Michel Marie, Stanley Cavell, Serge Toubiana, Andras Balint Kovács, Antoine DeBaecque, Alain Badiou e Louis Skorecki. Não foram convidados? Recusaram o convite?
Também aproveito estas linhas para corrigir um mal-entendido que não é da minha responsabilidade e que é devidamente rectificado no site da Sight & Sound: pelos vistos, as listas foram alojadas com os títulos dispostos alfabeticamente e não na ordem de valor fixada por cada votante, logo, não é correcta a observação que faço em relação ao Ozu ("An Autumn Afternoon") na lista de José Manuel Costa.
Entretanto, já foram tornadas públicas as listas dos realizadores. O nome de João Mário Grilo não faz parte da mesma, pelo que se confirma, na lista dos especialistas, uma ausência de peso (algo inaceitável, na minha opinião).
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