quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O fim da RTP2: pelo apuramento de responsabilidades


Vamos lá ver se não perdemos "a perspectiva" sobre a evolução desta história, a meu ver lamentável, em torno da privatização do segundo canal.

Quem a dirige há mais de quatro anos? Quem decidiu investir sobretudo numa programação infantil e desinvestir nas outras áreas culturais previstas no contrato com o Estado, como por exemplo no cinema, no teatro e na música? Quem cortou com o passado da estação e não ouviu, nunca ouviu, o seu público? Quem fez da RTP2 o "elo mais fraco" hoje, em tempos de horror à despesa e de obsessão pelo dinheiro? Quem fez da RTP2 um canal sem um público suficientemente convicto para sair à rua na sua defesa? (Os meninos e meninas de 5 e 6 anos, infelizmente, não deverão conseguir muito, agora que se anuncia o fim de tudo, ou conseguirão?)

Sim, a ideia de concessionar a RTP1 a um privado é uma não-medida ridícula - afinal, o problema não começa com "quem" a chefia, mas com "quem" fiscaliza o cumprimento ou não das obrigações de serviço público... e, já agora, "que serviço público?" - e sim, também acho que a orientação correcta é aquela que a RTP2 em tempos personificou, na realidade, que personificou durante a maior parte da sua existência. Contudo, e infelizmente a maioria cederá à diabolização simples deste executivo - e, logo, a culpa morrerá solteira, coisa que essa mesma maioria irá afirmar a plenos pulmões como se não fosse nada com ela... -, a história do fim da RTP2 tem como primeiro carrasco a sua actual e, pelos vistos, derradeira direcção. Na realidade, esta foi a coisa mais conveniente que podia ter acontecido a um governo que parece estar pouco preocupado em gizar uma hipótese séria de serviço público de televisão.

(Um dia a Dra. Paula Moura Pinheiro apelidou de "mal-entendido" uma causa que reuniu mais de 3000 cidadãos, pois eu agora digo que ela e a direcção de que faz parte é que nunca entenderam nem quiseram entender o que estava em jogo... Talvez agora fossem, pelo menos, 3000 a lutar empenhadamente pela sobrevivência do canal.)

7 comentários:

Miguel Domingues disse...

Não sejas ingénuo, Luís. A RTP2 até podia ter a melhor programação do mundo que seria extinta à mesma. Isto é uma decisão ideológica, não tem a ver com a falta de qualidade da programação.

Luís Mendonça disse...

O governo tinha várias soluções em cima da mesa. Não vejo como pode ser "ideológico" privatizar a RTP2 em vez da RTP1. Na realidade, a solução que parecia mais viável era manter a RTP2 e privatizar a RTP1, o que se passou, na minha opinião, é que o governo, com estas histórias do Relvas e a situação actual do país, não tinha margem política para ir para a frente com tamanha decisão. Decidiu, portanto, liquidar o elo mais fraco, o que não irá levantar grande contestação junto das "corporações" e, sobretudo, da sociedade civil.

Por tudo isto, penso que a inexistência de um público forte, de uma base social expressiva, tem muito a ver com este desfecho trágico da RTP2.

Anónimo disse...

o país ainda tem crianças.É bom a programaçao infantil..nem todos possuem cabo para virem a disney e o panda.

Anónimo disse...

"...o que não irá levantar grande contestação junto das "corporações" e, sobretudo, da sociedade civil. "

ahhaha, então isto tem menos impacto em 10 milhões de pessoas que numas 100mil?

Lá porque tu não vês, não quer dizer que não haja inteligência em Portugal.

"...inexistência de um público forte..." - onde tu te inseres.

Luís Mendonça disse...

Quem disse que não vejo a RTP2? Vejo e muito. Não falaria aqui do que não vejo, como é óbvio.

O senhor Anónimo aprenda a escrever o seu nome e depois falamos.

joão disse...

Luís, acho que tens feito um esforço notável para abordar criticamente a programação da 2 e a sua abordagem de serviço público, mas já não me parece possível exercer este zelo sem lutar agressivamente pela manutenção (e expansão, porque não?) destes direitos, visto que a tendência da última década aponta para a sua extinção ou esquecimento, sem qualquer pejo. Os responsáveis são, portanto, políticos. Concorro com o primeiro comentário, embora também reconheça que o esboroamento da base de apoio deste serviço se deve, em larga medida, a quem desperdiçou as oportunidades que existiram, enquanto existiam. Custa-me que tal aconteça, mas tem sido assim, não é? Se zelamos por bons museus, logo acabam os museus. Se reinvindicamos uma cinemateca interventiva, logo aparece um novo modelo de "parcerias" que, a prazo, corrói a sua operacionalidade. Não há cultura sem economia, e até me parece que do lado financeiro, a saúde da RTP será prazenteiramente ignorada por quem pretende fechar negócio. Em última análise, não bastarão movimentos "em defesa de" sem lógicas sistémicas, sem interacções com movimentos políticos mais vastos, e sem uma concepção de serviço público que abranja a rádio, a TDT, e a internet. De outra maneira, estas invectivas são sempre parcelares. Parabéns pelo blog.

Luís Mendonça disse...

Caro João, obrigado pelo seu comentário, muito completo e informado. A minha defesa da RTP2, isto é, da EXISTÊNCIA da RTP2 estará sempre implícita à minha batalha pela restauração da VERDADEIRA RTP2 - não aquela dos últimos cerca de 4 anos.

De qualquer modo, o que diz é um acrescento muito útil e sensato a todo este debate. E, quanto a mim, não perde de vista a crítica necessária ao que tem corrido mal na direcção da televisão pública nacional - diferente de "serviço público de televisão".

Abraço,

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