Jean-Luc Godard, "Masculin féminin" (1966)
Quando se diz "revista de cinema" trata-se de evocar um filme de tal maneira que o outro o reveja, isso deixa-nos satisfeitos. (...)
A cinefilia não consiste em ver filmes apenas, na penumbra, (...) consiste em não falar durante hora e meia, estar obrigado a escutar, a olhar, e durante a hora e meia seguinte recuperar o tempo perdido. E se não há ninguém com quem falar, podemos escrever, o que acaba por ser uma forma de falar. (...) Entre o que se alucina, o que se quer ver, o que se vê realmente e o que não se vê, o "jogo" é infinito: é aí que tocamos na parte mais íntima do cinema. Mas é necessário que esse jogo seja dito em algum momento.
Serge Daney, "Trafic na Jeu de Paume", apresentação do segundo número da revista Trafic em Maio de 1992, na última intervenção pública do crítico francês, que viria a falecer no mês seguinte, faz hoje exactamente 20 anos
Etc.
Etc.
[Por favor, apreciem a ausência das palavra "gosto" ou dos seus qualificativos da praxe (o mais alto..., o melhor..., o certo...), a que se reduz sobranceiramente a actividade de alguns críticos... Quais? Aqueles que vão ao cinema para "provar" filmes ou definir trends autorais.]
1 comentário:
Gostei do excerto.
Em parte nunca me considerei um cinéfilo... sigo aquilo que me interessa ver. Vejo muitos filmes mas realmente por vezes tenho essa atitude de querer "provar" certos filmes, no fundo obter "sabores" refrescantes e diferentes também.
Não vi nada de Godard excepto o "Film Socialist" (que não gostei nada... mas vi até ao fim com atenção, talvez para o provar inteiramente), mas esse excerto junto de uma imagem de um filme dele.
Eu gradualmente preste menos atenção aos chamados criticos-profissionais. Normalmente o que estes fazem é a manutenção do mesmo: valorizam com adjectivos excessivos da praxe tudo aquilo que tem estatuto e ignoram ou desvalorizam o resto, ou seja o que ainda não ganhou prémios e se for cinema comercial ou de Hollywood ainda pior... até atacam violentamente.
Eu faço por ver um pouco de tudo e tento sempre perceber o que se quis ali fazer, para quem, que objectivos há no filme (ou nos casos em que são mais produtos que obras de cinema).
Bom texto... dá que pensar.
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