sábado, 17 de setembro de 2011

O fim da Cinemateca, o fim das Imagens, o fim da Memória, o fim...

Still de "Branca de Neve"

Já imaginaram o nosso país sem cinemateca? Esta é uma imagem que só me ocorreu, se ocorreu, na eventualidade de um ataque nuclear atingir a Avenida da Liberdade. Com todos os edifícios de pé, confesso que não concebo uma cidade como Lisboa, um país como Portugal, sem um pólo onde se mostre, se dê a pensar e se preserve a memória do cinema - as imagens do mundo e as imagens que fazem parte do nosso ADN, da nossa história.

O Governo anunciou a extinção ou fusão (não se sabe bem com quem ou com quê) do nosso Museu do Cinema. Ou estamos, de facto, no fim da linha ou então esta é a primeira manifestação de total insensibilidade para com os assuntos da cultura da parte deste Governo - insensibilidade para com a arte e a memória portuguesas, bem como o mais desrespeitoso insulto que poderia conceber a uma casa que, dentro de limitações que são públicas, tem projectado uma excelente imagem do nosso país. É mesmo uma instituição pública de indiscutível sucesso e de indispensável existência.

O ataque nuclear parece estar a vir de dentro. Sem cinemateca, e com os outros edifícios de pé, digo que este país acabou.

5 comentários:

Anónimo disse...

Basta surgir umas notícias sobre uma mudança da estrutura institucional da Cinemateca, para que uma série de vozes já vaticinem a morte ou a extinção da mesma e se indignem contra o seu país. Será que esta elite mimada se dá conta que no resto país também existem cinéfilos e conhecedores da história do cinema sem nunca terem posto os pés na Cinemateca ? Esta, para além da preservação do património do cinema português, o seu papel da sua divulgação nunca serviu o país, mas sim uma elite lisboeta interessada nos seus próprios gostos e interesses estéticos. O país sabe o que vos preocupa e a razão dos vossos alarmes catastróficos...

Luís Mendonça disse...

A notícia que motivou o meu alarme foi, obviamente, aquela que dizia respeito à extinção ou fusão da Cinemateca, não aquela que entretanto surgiu, dando conta dessa tal "mudança estrutural" - que, devo-lhe dizer, senhor Anónimo - pelos vistos, porta-voz de todos os portugueses - que também não me deixa muito descansado...

Quanto ao facto de dizer que a cinemateca não serve o país. Diria que nunca vi atitude mais elitista do que a sua: digna-se a comentar sem dar a cara pelo que diz - típico do elitismo mais cobarde que conheço... talvez não se queira "misturar" no debate democrático e aberto, não é verdade? -e, por outro lado, pelo facto da actividade da cinemateca estar geograficamente centrada em Lisboa, como que retira a esta o seu campo de acção naturalmente nacional. Lisboa não é Portugal ou é Portugal que não é Lisboa? Não percebi...

Caso não saiba, a Cinemateca participa em restauros, armazena obras (nacionais e internacionais), mantém viva a circulação dessas obras, seja pela rede de cine-clubes, seja por protocolos com museus, etc. Por outro lado, deverá abrir - será que vai abrir? - uma extensão no Porto, o que me deixa muito satisfeito.

O texto que escrevi visa sublinhar a absoluta necessidade de manter e até EXPANDIR esta estrutura - e valorizá-la, sempre que possível.

O que me preocupa, a mim, que gosto de cinema, é o cinema, em sala, preferencialmente, mas também noutros ecrãs - para, nomeadamente, ultrapassar todo o tipo de barreiras que se coloquem à fruição e educação cinematográficas.

Anónimo disse...

Então para si é importante saber o nome da pessoa que aqui escreve ? A democracia é definida pelo nome que as pessoas aqui deixam, ou pelos argumentos que apresentam ?

Se acha que dar a cara é meter um nome qualquer, olhe, sou o João F. Liberdade. Ah ! Imagine só ? E sou de Aveiro. Será verdade ? Não interessa, para si basta ter um nome, e já tudo é digno e da maior abertura democrática…

Cobardes são os que nada dizem. E eu digo-lhe algumas curiosidades sobre a sua tão querida Cinemateca.

Ela não participa em restauros nem armazena películas, quem faz esse papel é o INAM, que está na mesma estrutura institucional da Cinemateca, tal como a Tobis. A Cinemateca tem, obviamente, uma relação estreita com esse arquivo, daí participar nas "circulações" internacionais de películas.

Agora, o problema é que toda a divulgação desse espólio, a que tem acesso, restringe-se a Lisboa e às suas próprias salas - e para não falar dos critérios estéticos dos mesmos.

Eu não sou portavoz de todos os portugueses, mas conheço alguns casos pelo país fora. Pois já tentei abordar a própria instituição, através de um cineclube, para saber da possibilidade de exibir alguns filmes que possuíam, ao qual a mesma terá recusado. Posteriormente, soube de outras recusas, mas apercebi-me que não são questões técnicas que os impedem, como alegavam, mas apenas o conhecimento que se possa conseguir com os responsáveis da instituição. No fundo, o velho "elitismo mais cobarde" que tão bem conhece…

Portanto, se julga que a Cinemateca pratica uma "viva circulação", protocolos com museus, e outras favores ao resto do país, está apenas a contar com aquela meia dúzia de vezes que o fez, e só quando o rei fez anos. Ou um burguês provinciano qualquer, que eles conheceram quando foram à ópera juntos.

Já agora, se não se lembra, essa história da extensão no Porto, surgiu por causa desse olímpico alheamento que os responsáveis lisboetas votavam o gosto de cinema no resto do país e à "fruição e educação cinematográficas" que praticam. Porque eles nunca mexeram uma palha para fomentar isso. Só um ou outro tipo mais atrevido, e só após algum lobby, lá terá em tempos idos conseguido que eles se dignassem a ceder qualquer coisa.

E o que foi que eles responderam quando veio a público essa questão de se criar uma extensão da Cinemateca PORTUGUESA no Porto: - Pois se querem, criem vocês a vossa, que depois a gente empresta-vos uns filmes e outros objectos, que nós não estamos para fazer extensões. E lá houve então uma ministra que se comprometeu com a criação duma nova. Pena que a tipa já lá não manda, e com a situação que o país está, duvido que alguma vez venha a existir. E mesmo que aconteça algum milagre, o resto do país, não tem direito ?

Mas claro, você não percebe, pois para si basta um organismo estatal estar sediado em Lisboa para Portugal inteiro beneficiar dele. Só lhe faltou dizer que Lisboa é Portugal, e o resto é paisagem. Não disse, mas faltou tão pouco…

Luís Mendonça disse...

Sim, o debate democrático só me parece possível quando as pessoas dão a cara pelas suas opiniões - no entanto, não me parece justa a apreciação que faz da minha noção de democracia, visto que MESMO ASSIM publiquei e respondi ao seu post. Contudo, o "dar a cara pelo que se defende" é um princípio que, estou certo, reconhecerá como indispensável no debate em torno do que quer que seja.

Quanto às questões que levanta, não sei muito bem diferenciar onde acaba o trabalho da Cinemateca e começa o trabalho do ANIM, mas parece que está claro que ambas trabalham em parceria muito estreita - o actual vice-director da cinemateca foi presidente do ANIM durante vários anos, como saberá.

Quanto a todas as questões relacionadas com o debate, que eu considero importante, em torno da "descentralização" da cinemateca, está na linha do que defendo... É que, nem mais!, eu também considero fundamental EXPANDIR os serviços da cinemateca, bem para lá da capital.

Não vejo em que é que esta medida do Governo contribui para isso - medida aliás de contornos ainda muito pouco claros, na realidade, considero-a ainda altamente preocupante para quem partilha desta visão, que, está visto, é tanto do João como minha - já agora, o meu nome é mesmo Luís Mendonça e neste espaço não me tenho cansado de pugnar pela democratização da oferta cinematográfica, nomeadamente, na televisão pública, a pensar precisamente no caso de tanta gente que não tem acesso privilegiado a estes espaços...


Quanto a Lisboa ser Potugal e o resto ser paisagem, devo ter sido pouco claro no que escrevi: o que disse é que até parecia que era o João que estava a tirar Lisboa do mapa de Portugal, que, pelo facto da cinemateca estar aqui sediada, não tinha - nem podia ter - qualquer tipo de interesses para um português que viva, sei lá, em Aveiro ou no Porto...

Enfim, fora tudo isto, fica o registo da actualidade: a cinemateca deixou de ser considerada um instituto público.

http://www.publico.pt/Cultura/cinemateca-deixa-de-ser-instituto-publico_1512273

Já percebi que isso o incomoda menos que alguém vir aqui relembrar os agentes políticos da necessidade de uma instituição como a cinemateca; já percebi que, para si, tudo isto é coisa de gente mimada e que temos de "comer e calar"... Respeito essa posição, mas apenas isso.

Anónimo disse...

Se me permitem, esclareço-os que aquilo a que um de vós, erradamente, designa por INAM e o outro ANIM é, nada mais nada menos, o departamento de ARQUIVO FILMICO DA Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, cuja designação é ANIM-Arquivo Nacional das Imagens em Movimento. Esclareço também que a Tóbis é uma empresa que não tem qualquer relação de dependência institucional com a Cinemateca. Para esclarecerem e evitarem afirmações injustas quanto à actividade da Cinemateca, nomeadamente o seu apoio a iniciativas externas, mediante o empréstimo de cópias, sugiro que consultem os seus relatórios de actividades, disponíveis em www.cinemateca.pt

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