quinta-feira, 8 de setembro de 2011

The Ward (2011) de John Carpenter (II)


Vêmo-la, pela primeira vez, com roupa de dormir a percorrer os bosques selvagens onde, numa clareira, está a casa que vai arder pela sua mão. Não é exactamente um "ninho de vampiros", saído de "Vampires", mas, digamos, uma habitação de "má memória" para Kristen (que será reavivada no tal "tempo incógnito", referido na parte I da análise). Ela é detida pela polícia e conduzida (de novo?) para a prisão, uma prisão psiquiátrica, isto é, "o buraco da sua própria psique". Amber Heard dá corpo à nova heroína desta fábula de horror, próxima de um "Alice no País que é a sua Mente", uma mente distorcida por drogas e experiências médicas duvidosas antes talvez mesmo do que pela tal "má memória" que motiva o sacrifício da casa.

Esta Alice não vê coelhos mágicos com relógios de bolso ou coisas parecidas; ela vê, "por reflexo", um grupo de sumas beldades que compõem o lote de doentes mentais de "o hospício", qual "prisão de mulheres" à Corman ou Edgar G. Ulmer. O paraíso para o olhar devorador masculino? Sim, mas aqui os homens são assexuados, puramente inactivos - veja-se esse anti-estereótipo quase paródico que é o enfermeiro de serviço, que rejeita qualquer envolvimento sexual com as pacientes! As mulheres, por outro lado, fazem as coisas girar, a 360 graus, como numa roleta russa mental em que a pergunta "who's going next?" é acompanhada por outra: "by whom?"

Enfim, chamemos-lhe Kristen, chamemos-lhe Alice, Amber Heard é a protagonista. E mostra-se à altura daquele que é o maior desafio da sua carreira: não só entra no lote das grandes personagens femininas carpenterianas como, de novo na lógica do 1 + 1 = 1, faz a síntese perfeita entre os dois modelos de actrizes à Carpenter. Heard tem a sensualidade de uma Natasha Henstridge ("Ghosts of Mars") ou Lauren Hutton ("Someone's Watching Me"), mas, ao mesmo tempo, apresenta os traços bem definidos e "másculos" de uma Jamie Lee Curtis ("Halloween" e "The Fog"). De resto, indo ainda mais além do que as aparências prometem, Heard é a action woman dimensionada à medida do seu realizador.

Ela converte tudo em acção; nada a faz parar, nem o horror que vem do seu passado, nem o horror que vem dos enfermeiros, com os seus "tratamentos de choque", nem mesmo o horror que vem do passado, manchado de sangue, do hospício. Sempre disposta a lutar, ela "acciona" cada pedaço de filme, de tal modo que o ecrã resiste mal à sua ausência - como se vê na última cena, "The Ward" fica rapidamente com saudades dos "reflexos rápidos" de Amber Heard, verdadeira potência carpenteriana no feminino. Esperemos que esta empresa continue. Até lá, vai sendo celebrada, pelo menos, aqui para os lados do CINEdrio, com uma obra-prima chamada "The Ward".

1 comentário:

João Palhares disse...

Epa, apetece-me ver o filme outra vez.. :)

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