domingo, 27 de janeiro de 2013

The Revolt of Mamie Stover (1956) de Raoul Walsh


O que dizer sobre "The Revolt of Mamie Stover" que já não é dito nas excelentes duas intervenções, por Rabourdin e Noel Simsolo, em extra no pack de dois filmes (o outro é o já analisado aqui "You Are in the Army Now") editado pela marca francesa Opening? Os dois, sobretudo o primeiro, fazem o retrato deste filme na obra de Walsh, começando desde logo por afirmar o seu lado excepcional ou dissonante. De facto, não sendo este o único filme de Walsh protagonizado por uma mulher, é seguramente um dos seus filmes mais povoados por mulheres, não só Jane Russell mas todas as suas colegas do lupanar exótico onde se tornará estrela número um, figura mais cobiçada pelo olhar - e não só - faminto dos militares estacionados no Hawai, durante a II Guerra Mundial. Outra nota de dissonância com boa parte da restante obra de Walsh será o CinemaScope e, sobretudo, o Technicolor - como diz Rabourdin - quase sirkiano. O trabalho que Walsh desenvolve sobre a cor neste filme lembra-nos que este era, na sua vida particular, não só um apreciador e conhecedor de pintura, como um amador dessa arte, tendo produzido, diz Simsolo, algumas obras de apurado "refinamento" estético.

Apesar de ter a guerra como pano de fundo, "The Revolt of Mamie Stover" é um melodrama adulto, de facto, quase sirkiano, que estranhará os espectadores habituados a ver em Walsh sinónimo de "aventura e acção". Este filme aparentemente incaracterístico de Walsh conta a história da repentina ascensão social de uma prostituta de São Francisco numa ilha do Hawai e a forma como o súbito sucesso interfere com a relação amorosa que mantém com um escritor bem instalado na vida. Dito assim, feita esta sinopse, ao espectador mais atento às nuances walshianas começará a "soar a campainha", na medida em que não é caso único no cinema do realizador americano histórias sobre ascensões meteóricas de pessoas marginais ao sistema, bastando recordar um filme magnífico como "Silver River". A tensão entre amor e dinheiro, a pedra de toque temática deste filme, traça um arco dramático muito semelhante ao que é traçado nesse fabuloso western protagonizado por Errol Flynn. Por outro lado, o fascínio quase fetichista de Walsh - que diziam ser um bon vivant quando não estava "em serviço" - por lugares de prazer nocturno atinge o pico aqui, já que boa parte do filme - qual Hawks 100% heterossexual - se passa num luxuoso lupanar com as maiores beldades da ilha - onde, Hawks again..., o cativeiro é fixado internamente como condição de sucesso para o negócio. Se pensarmos em filmes como "Manpower", "You Are in the Army", "The Man I Love", etc. ficamos conversados quanto ao papel que os "nightclubs" desempenham no seu universo.

Posto isto, "The Revolt of Momie Stover" afirma-se por si mesmo como um drama inteligente sobre uma mulher determinada em mudar de vida, lutando no fundo contra o seu próprio passado (de novo, "soa a campainha" no espectador mais conhecedor de Walsh...). O trabalho pictórico é nada menos que soberbo e Jane Russell, mostrando o outro lado da "traveca" espampanante de "Gentlemen Prefer Blondes", consegue combinar sensualidade, feminilidade e poder como poucas actrizes.

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