Apesar de ter a guerra como pano de fundo, "The Revolt of Mamie Stover" é um melodrama adulto, de facto, quase sirkiano, que estranhará os espectadores habituados a ver em Walsh sinónimo de "aventura e acção". Este filme aparentemente incaracterístico de Walsh conta a história da repentina ascensão social de uma prostituta de São Francisco numa ilha do Hawai e a forma como o súbito sucesso interfere com a relação amorosa que mantém com um escritor bem instalado na vida. Dito assim, feita esta sinopse, ao espectador mais atento às nuances walshianas começará a "soar a campainha", na medida em que não é caso único no cinema do realizador americano histórias sobre ascensões meteóricas de pessoas marginais ao sistema, bastando recordar um filme magnífico como "Silver River". A tensão entre amor e dinheiro, a pedra de toque temática deste filme, traça um arco dramático muito semelhante ao que é traçado nesse fabuloso western protagonizado por Errol Flynn. Por outro lado, o fascínio quase fetichista de Walsh - que diziam ser um bon vivant quando não estava "em serviço" - por lugares de prazer nocturno atinge o pico aqui, já que boa parte do filme - qual Hawks 100% heterossexual - se passa num luxuoso lupanar com as maiores beldades da ilha - onde, Hawks again..., o cativeiro é fixado internamente como condição de sucesso para o negócio. Se pensarmos em filmes como "Manpower", "You Are in the Army", "The Man I Love", etc. ficamos conversados quanto ao papel que os "nightclubs" desempenham no seu universo.
Posto isto, "The Revolt of Momie Stover" afirma-se por si mesmo como um drama inteligente sobre uma mulher determinada em mudar de vida, lutando no fundo contra o seu próprio passado (de novo, "soa a campainha" no espectador mais conhecedor de Walsh...). O trabalho pictórico é nada menos que soberbo e Jane Russell, mostrando o outro lado da "traveca" espampanante de "Gentlemen Prefer Blondes", consegue combinar sensualidade, feminilidade e poder como poucas actrizes.
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