"Sargeant Rutledge" (1960) de John Ford
"Django Unchained" (2012) de Quentin Tarantino
[Não embarco no histerismo cinéfilo face às declarações de Tarantino sobre as posições políticas que John Ford foi tomando ao longo da sua vida. Parece-me evidente a inclinação de Ford, o homem, à direita mais conservadora e, por outro lado, é indesmentível que há uma tomada de posição político-ideológica muito bem definida quando se entra num filme como "The Birth of a Nation", sobretudo vestido de "cavaleiro branco" do KKK. Uma posição também de natureza política e ideológica é tomada por Tarantino em "Django Unchained", mas num pólo diametralmente oposto, que é importante que quem vê a História retroactivamente perceba: Tarantino personifica um dos muitos "bad guys" racistas do seu filme, ora, no filme de Griffith os "guys" racistas não são "bad", pelo contrário, são os gloriosos salvadores de "último minuto" da Pátria. O que Tarantino quis dizer na tal entrevista polémica é que despreza - quem não despreza? - o posicionamento que, em dado momento, um Ford ou um Griffith ou, grosso modo, toda uma tradição clássica manifestou - ou, cobardemente, não manifestou! - em relação à história - que é a sua História - da miscigenação norte-americana. Posto isto, e acalmadas as histéricas consciências cinéfilóides, tenho a dizer que "Django Unchained" é melhor sucedido no statement ideológico - nomeadamente na personagem de Samuel L. Jackson, o reverso pervertido/subvertido da governanta negra de "Gone With the Wind" - que como exercício de género ou de cinema-cinema. A redundância aqui não é criativa, produtiva, profícua, mas redunda - e passo o pleonasmo... do pleonasmo? - numa operação que lembra o "enterro forçado" de "Kill Bill Vol. 2": camadas e camadas de "cultura cinéfila", sufocante e ruidosa - nada silenciosa, apesar do "d" do título - que tornam tanta escrita fílmica num texto perto da total ilegibilidade. Um texto que desfigura a clarividência, ou melhor, a economia dramatúrgica de um "Inglourious Basterds" ou "Death Proof". As excepções são as conversações iniciais de Christoph Waltz (genial, de novo!) com Jamie Foxx (o mais grave erro de casting na carreira de Tarantino) e o brilhante set piece perto do fim. De resto, "Django Unchained" é uma desilusão.]
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