Na televisão portuguesa, a alternativa ao espaço razoável de João Lopes na SIC Notícias é o programa de Mário Augusto
"Janela Indiscreta" na RTP. Mário Augusto esteve na SIC Notícias até há pouco tempo, tendo passado entretanto, sabe-se lá com que custos, para a televisão pública. Faz hoje magazines "enlatáveis" que alimentam RTPN, RTP1 e RTP2 em horários impróprios (respectivamente, 2h30, 2h00 e 13h45). O que é que mudou em relação àquilo que Mário Augusto fazia na SIC? Bem, mudou muito pouco, mas o que mudou mostra quão inacreditável foi esta contratação: mais promoção e divulgação do cinema português.
Lá impuseram as "quotas do serviço público" ao homem dos
junkets e das festas loucas de Hollywood. Não tenho nada em particular contra o "jornalismo" - vêem-se as aspas? Mas vêem-se mesmo? Não será melhor pôr a
bold? Ó mãe, vê lá, está mesmo bem? Ok, continuando... - praticado por Mário Augusto, homem simpático que já tive o prazer de conhecer, mas a RTP não conseguia fazer melhor? Teve de roubar da concorrência alguém para fazer, contra-natura, a promoção do malquisto cinema nacional, misturado com a pipocada-mor do
boxoffice?
A título de exemplo, veja-se os créditos de abertura de "Janela Indiscreta", com frases célebres da Sétima Arte como "O meu nome é Bond, James Bond" e... "Até que a voz me doa" ("Amália"). Isto revela não só a
ausência de uma programação (pensada) de cultura na televisão pública como, muito especificamente, a condução editorial do resto do programa: euforia incontida quando é para falar da última comédia de Nora Ephron interrompida a espaços com os malditos dos filmes portugueses... enfiados a martelo. É tudo tão artificial quanto pôr um Mário Jorge Torres a entrevistar Hugh Grant num
junket sobre a sua última produção "Ouviste falar dos Morgan?".
Não está a RTP equipada para conceber, de raiz, uma coisa que não tem, que não há, de facto, na televisão nacional: uma programação cultural com espaços, vá, com UM espaço que produza reflexão/informação relevante sobre a actualidade cinematográfica, que promova a descoberta dos clássicos e não se limite a "vender
blockbusters" como quem vende um creme para as rugas? Caramba, não consegue a RTP arranjar, até mais barato, uma pessoa minimamente telegénica para falar ou/e pôr gente a falar empenhada e seriamente sobre Cinema?