"What is This Film Called Love?" é um ensaio visual de Mark Cousins no formato de cine-diário sobre três dias de "tédio" na cidade do México por que o realizador teve de passar durante a divulgação internacional de um dos seus filmes. Esse tédio terá provocado um desejo de fazer alguma coisa e tendo Mark Cousins uma paixão incontida, orgulhosa até!, pela história do cinema não é de espantar que desse desejo resulte um objecto fílmico talvez difícil de classificar, entre o ensaio pessoal e o documentário pedagógico.
Acontece algo assim: um pequeno e muito frágil objecto que explora a intimidade deste cineasta perdido no México através de uma fantasiada (vídeo-)correspondência com Serguei Eisenstein. Repisando o solo que Eisenstein percorreu, aquando da preparação da sua obra-prima inacabada, "Que viva México!", Cousins encontra o pretexto ideal para sair do quarto e enfrentar o tédio. Há um problema aqui: ele não chega verdadeiramente a enfrentá-lo. Todo o filme é uma distracção de algo, uma espécie de transferência simples de uma certo estado espírito para esse grande repositório amalgamente chamado cinema.
Com uma banalíssima câmara digital, com uma foto de Eisenstein na mão, com um dispositivo básico que faz de uma correspondência delirante, além-túmulo, um motivo para conhecer a gigantesca capital mexicana, Cousins "improvisa" um filme desnecessário, que acaba por documentar menos o homem e mais a forma como este foge de si mesmo, da sua solidão numa cidade imensa que lhe escapa - e é preciso dizer que "a forma da fuga" nunca chega a convencer. Um home video sofisticado para amigos e família ou, no limite, um sofrível extra de DVD, o visionamento de "What is This Film Called Love?" só se justifica dentro do contexto específico de uma retrospectiva da obra de Cousins.
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