sábado, 27 de julho de 2013
Stemple Pass (2012) de James Benning
James Benning faz de "Stemple Pass" uma espécie de síntese perfeita do seu cinema, depurando (ainda mais) a sua proposta estética e política. Quatro planos, as quatro estações do ano, quatro planos sobre a mesma paisagem e na paisagem sobre a mesma cabana, cada um com trinta minutos. Em narração over, ouvimos os diários e as confissões de Ted Kaczynski, mais conhecido como "the unabomber". Nos anos 70, este homem doutorado em matemática pela Universidade do Michigan auto-excluiu-se da sociedade, afastou-se dos ruídos da civilização tecnológica, numa espécie de reedição ultra-radical de Walden. Daqui resultou um manifesto e uma acção terrorista (necessariamente terrorista, dirá o filósofo) através de encomendas armadilhadas enviadas (por correio) a professores, cientistas e políticos. A serenidade e respiração da paisagem natural são interrompidas pelos relatos crus, por vezes brutais e primitivos, por vezes perigosamente elaborados desta voz sem corpo cuja presença se faz simbolizar pela cabana que James Benning construiu à imagem da habitação original.
Depois de ouvirmos uma peroração sobre a ditadura tecnológica em que o homem moderno vive, cada som à distância de um helicóptero como que "golpeia" a imagem com um sentido de ironia e de gravidade que até agora estavam apenas implícitos nos filmes de Benning, como "13 Lakes" ou "RR". O "comentário à técnica" mistura-se aqui com um desesperante sentido de morte e um choque constantemente insinuado na paisagem audio-visual entre o primitivo e o moderno. É o grande "horror movie" de Benning depois de "Landscape Suicide", uma versão sublimada desta sua (outra) obra-prima. Uma contemplação sobre a natureza (do homem), a Natureza (que ele defende) e a sociedade (que ele ataca, em "legítima defesa"). Belo e perturbante, "Stemple Pass" é, sem dúvida alguma, um dos filmes mais notáveis que vi este ano.
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