domingo, 21 de abril de 2013
Doméstica (2013) de Gabriel Mascaro
Vamos falar de domésticas? Então falemos a sério de domésticas. Há um filme horrendo de Sally Potter, "Yes", que explora um pouco esse lado escondido - que provavelmente o leitor "evitará saber" - dos pensamentos de uma empregada doméstica. É que é ela que lava a sua roupa, é ela que despeja - e espreita sobre - o seu lixo, é ela que prepara as suas refeições, é ela que ouve as suas conversas - as mais íntimas. A empregada ou é uma intrusa ou é mais um elemento da família. A posição afectiva e social de uma mulher destas é matéria de sobra para um filme. Contudo, o modelo conceptual de "Doméstica" deita parte deste aliciante desafio para o lixo, já que comete o erro crasso de querer "retratar" estas mulheres pondo a câmara nas mãos de quem estas dependem. Mesmo que Gabriel Mascaro tenha delegado as suas funções em rapazes e raparigas e não nos patrões e patroas que são os seus pais, a situação que monta não deixa de conduzir este projecto a um beco sem saída.
"Doméstica" compila sete retratos de domésticas no Brasil - na apresentação, a produtora do filme disse que há cerca de 7 milhões em todo o país! - mas passa a "batata quente" da realização para os patrõezinhos. Em mais de metade destes pequenos filmes, alguns deles sem qualquer ideia de "direcção", quase arbitrariamente realizados pelos seus impreparados realizadores, as empregadas estão presas ao papel social, de subalternidade, que desempenham naquela casa, quando a ideia é - à partida - que estas saiam, por uns instantes que sejam, dessa pele e falem franca e abertamente sobre os condicionalismos da sua profissão. Os seus 15 minutos de fama reduzem-se, por vezes, a um pequeno "bate papo" mais ou menos artificial ou a uma curta "história de vida" que lhes ocorra, sobre as suas origens e a experiência de trabalhar naquela casa - repare-se como se "fixa" a sensação de que todas elas são felizes ali, nalguns casos mais felizes a trabalhar ali do que a viverem, quando as têm, nas suas próprias casas!
Num dos episódios, realizado por uma rapariga que não deverá ter mais de doze anos - mas realizado com sentido e faro de realizadora -, somos apresentados a uma "empregada de uma empregada", Bia, jovem mulher que trabalha numa casa pobre, com paredes de tijolos por acabar, e que divide o tempo entre as lides domésticas e as brincadeiras com o irmão deficiente da nossa improvisada mettrice en scène. Este será o momento mais alto desta espécie de versão "do it yourself" de "Santiago", filme de João Moreira Salles, que comete erros de palmatória na sua conceptualização, ficando, por isso, muito aquém do material riquíssimo que tem em mãos. Uma pena.
("Doméstica" passou hoje, dia 20, no Cinema City Classic Alvalade, no âmbito da secção Pulsar do Mundo. Volta a passar dia 22, próxima segunda-feira, no mesmo local, às 21h30. Aproveite esse horário para ver outro filme IndieLisboa.)
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