segunda-feira, 29 de abril de 2013

Paradies: Hoffnung (2013) de Ulrich Seidl


A conclusão da trilogia "Paraíso" de Ulrich Seidl faz-se com a história da "filha" no primeiro filme, "Paradise: Love". A "tia", de "Paradise: Faith", leva Melanie para um "fat camp", onde esta encontrará rapazes e raparigas iguais a si, todos eles sofrendo de excesso de peso, problemas de insegurança e, sobretudo ou talvez apenas, atravessando a proverbial crise da adolescência que ataca todos os "teens", sejam eles gordos ou magros, bonitos ou feios, austríacos ou norte-americanos. Melanie vai encontrar amizade e compreensão junto de algumas raparigas (sobretudo uma, a que se gaba mais das suas conquistas amorosas ou sentimentais), mas, antes de tudo, é neste "campus" que a nossa protagonista descobre o amor: o médico de serviço, homem com idade para ser seu pai (por falar nisso, cadê o pai de Melanie? Cadê as figuras paternas no cinema de Seidl?). Não se tenha dúvidas de que há um certo "horror ao pai" nestas histórias de mulheres à deriva pelos seus sentimentos, umas contrariando os seus impulsos amorosos, outras os seus impulsos de fé ou sexuais (coisas que se confundem em "Faith", de facto).

Em "Paradise: Hope", o esquematismo moral seidliano não é tão óbvio e as suas personagens (sobretudo a adolescente) têm margem para ganharem algum volume dramático para lá da sua aparência imediata, que em registos anteriores seria paroxistica e grotescamente objectificada pela câmara do perverso realizados austríaco. Estamos no terreno identificável, palpável, "real" da adolescência e é nele que se constrói uma história de incomunicabilidade, estranheza e, de um modo particular é certo, amor. A caricatura viva que é o "senhor doutor", bicho estranho que se vai revelando nos seus jogos pervertidos quase invisíveis, está sempre ali para nos lembrarmos de que isto é um "film von Seidl", mas ao menos há margem aqui para alguém existir - e daí que talvez, pela primeira vez na trilogia, a palavra no subtítulo não seja cinicamente atraiçoada ou convenientemente explorada. 

("Paradise: Hope" passou hoje, dia 28, na secção Observatório. Não faz de Seidl nem da sua trilogia lugares de passagem obrigatória. De qualquer modo, há uma visão que se desenvolve coerentemente ao longo destes três "paraísos" que, tendo seduzido boa parte ou a parte boa da crítica e do público deste IndieLisboa, talvez merecessem alguma forma de distribuição em Portugal. Por exemplo, uma caixa de DVDs.)

Sem comentários:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...