Em "Paradise: Hope", o esquematismo moral seidliano não é tão óbvio e as suas personagens (sobretudo a adolescente) têm margem para ganharem algum volume dramático para lá da sua aparência imediata, que em registos anteriores seria paroxistica e grotescamente objectificada pela câmara do perverso realizados austríaco. Estamos no terreno identificável, palpável, "real" da adolescência e é nele que se constrói uma história de incomunicabilidade, estranheza e, de um modo particular é certo, amor. A caricatura viva que é o "senhor doutor", bicho estranho que se vai revelando nos seus jogos pervertidos quase invisíveis, está sempre ali para nos lembrarmos de que isto é um "film von Seidl", mas ao menos há margem aqui para alguém existir - e daí que talvez, pela primeira vez na trilogia, a palavra no subtítulo não seja cinicamente atraiçoada ou convenientemente explorada.
("Paradise: Hope" passou hoje, dia 28, na secção Observatório. Não faz de Seidl nem da sua trilogia lugares de passagem obrigatória. De qualquer modo, há uma visão que se desenvolve coerentemente ao longo destes três "paraísos" que, tendo seduzido boa parte ou a parte boa da crítica e do público deste IndieLisboa, talvez merecessem alguma forma de distribuição em Portugal. Por exemplo, uma caixa de DVDs.)
Sem comentários:
Enviar um comentário