terça-feira, 23 de abril de 2013

Gimme the Loot (2012) de Adam Leon


"Gimme the Loot" é, como bem se anuncia, um regresso à casa-mãe de algum do melhor cinema independente norte-americano. Morris Engel e Ruth Orkin, Charles Burnett e Spike Lee à cabeça, pelo seu "sentido de rua", o fluxo ininterrupto da acção e o seu lado coral tão directo quanto caloroso (e o calor também é literal aqui, como por exemplo o é em "Do the Right Thing"). O facto de o rapaz andar confortavelmente descalço pela cidade durante boa parte do filme (por razões que não vou desvendar) não é só uma cena caricata desta comédia descontraída, upbeat, desenrolada nas ruas de Nova Iorque. Trata-se, com efeito, de um símbolo do que este filme de Adam Leon propõe e consegue alcançar: pôr em retrato uma certa vivência de rua que subsiste numa grande cidade, em contra-corrente com o estilo de vida sedentário do homem urbano. Esta "maneira de viver a rua" tem como pretexto uma disputa de poder em torno da arte do graffiti (também ela, pelo menos nestes moldes, já com o seu quê de anacrónica) .

À imagem do que vão fazendo brilhantemente os irmãos Safdie (excepção feita à sua mais recente curta, "The Black Balloon", homenagem inconsequente ao mais célebre filme de Albert Lamorisse que também marca presença neste IndieLisboa), Adam Leon cola-se às suas personagens - por vezes, alternadamente - para "documentar" 48 horas da sua vida, sendo que a premissa aventureira - graffitar a "maçã dos Metz" - vai sendo relegada para segundo plano e o casal de protagonistas passando para primeiro plano, na sua relação "desencontrada" - como disse, em certos momentos, é um desencontro espacial, muito efectivo. Tem qualquer coisa dos hang out movies de Linklater (à cabeça, o inevitável "Slacker"), tal como parece emular a tirada rápida na ponta da língua e o encantamento geral de um Woody Allen. "Gimme the Loot" mistura as suas várias influências, mas não se prende a elas, pelo que não espere o leitor um filme-citação ou nem mesmo uma homenagem despersonalizada de um jovem cineasta aos seus "velhos" mestres. Temos aqui um espírito novo com um cinema leve, que flui ao sabor dos acontecimentos, o mesmo é dizer: que flui, ligeiro, seguindo o passo, com ou sem ténis, dos seus simpáticos "vagabonds" enamorados. Aqui estão, em resumo, uma surpresa muito agradável e um cineasta a seguir.

("Gimme the Loot" passou hoje, dia 22, na secção Cinema Emergente. Este filme volta a passar no dia 26 de Abril, às 23:55, no Cinema City Classic Alvalade. Vou roubar, off the record, um adjectivo ao João Lameira, do À pala de Walsh, para dizer que este é um filme "fofinho" a não perder.)

1 comentário:

O Narrador Subjectivo disse...

Este tenho-o na shortlist, se estivesse mais perto de Lisboa tinha ido ao Indie ver. Essas referências aguçam o apetite.

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