sábado, 27 de abril de 2013
O futuro da Cinemateca: que direcção?
A situação actual da Cinemateca Portuguesa é alarmante e deixa antever um futuro nada risonho para esta instituição que se tem dedicado, de corpo e alma, à "educação do olhar" de sucessivas gerações de cinéfilos. No mês de Maio, cuja programação já está online, os ciclos temáticos ou por autores ficaram reduzidos ao mínimo, um mínimo, aliás, garantido por apoios exógenos à Cinemateca. Se antes, a direcção e programadores haviam conseguido "disfarçar" o estado real da instituição, agora, o mal está à vista, numa programação "sem âncoras" que já nem impressa condignamente é, tanto em quantidade quanto em qualidade.
O sinal foi dado no texto que abre a programação e que deve ser lido por todos aqueles que se preocupam pela preservação da memória cinéfila e cinematográfica deste nosso país. Agora a pergunta que se coloca - à sociedade civil, está claro - é: o que fazer? Criação de um movimento de protesto, de uma petição pública? Relembro que não há muito tempo, sob a mesma direcção da Cinemateca, foi criado um movimento e que desse movimento resultou uma manifestação e que dessa manifestação... bem, está visto, pouco ou nada resultou. Desde aí, já tivemos uma mudança governamental e, pelas minhas contas, dois secretários de Estado da Cultura. Se calhar, para começar, importa evitar diabolizações fáceis e dar espaço, sem tabus, a todos os diagnósticos e hipóteses de acção.
Pergunto-me se não deveria entrar de vez na "agenda" uma questão decerto pouco cómoda, se calhar muito incómoda dado já estarmos fatalmente sob o efeito deste processo de degenerescência que assola uma instituição dedicada a dar vida aos mortos e aos fantasmas no ecrã. Essa questão é: estará esta direcção preparada para gerir um eventual movimento cívico que reconduza, com estrondo, todos estes problemas a quem de direito? Neste momento, terá esta direcção, sobretudo a presente directora, capacidade ou margem política para sair da sua zona de conforto e se aliar a esta causa, que é a nossa causa, mas também deve ser, antes de mais, a SUA causa? Que margem existe para fazermos alguma coisa, que produza de facto as consequências desejadas?
Entenda-se: estou a falar explicitamente do problema de um eventual - sublinho o eventual - deficit de liderança (ou daquilo que os ingleses chamam leverage) dentro da Cinemateca Portuguesa. Se está em causa o futuro da Cinemateca tal como a conhecemos, então temos de colocar todas as questões. Eu, pessoalmente, tenho horror à passividade, aos meios-termos e à lenta podridão... Gostava de agir - e irei agir, espero - mas pergunto-me se estaremos todos empenhados da mesma maneira (isto é, incondicionalmente) em inverter uma situação que, como utente e amigo da Cinemateca Portuguesa, muito seriamente me preocupa.
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