domingo, 21 de abril de 2013
Francine (2012) de Brian M. Cassidy e Melanie Shatzky
"Francine" é um pequeno filme de pequenos momentos, pequenos silêncios, pequenas situações, que não se quer agigantar, nunca se agiganta, de tal modo que se arrisca a cair num vazio. Parece que nos passa ao lado e nem uma corrente de ar chega a provocar, mas não devo ser tão duro com um filme que não quer ir mais além do rosto e corpo da sua actriz, a fabulosa Melissa Leo. São 74 minutos de uma ficção anódina, mas também são 74 minutos que documentam a acção quase muda de uma grande actriz, aqui na pele de uma mulher que saiu da cadeia e tenta ajustar-se ao mundo "lá fora". Encontros e desencontros amorosos, sucessão de empregos e uma paixão alienante por animais, Francine-personagem ou "Francine"-filme só seria isto e pouco mais se não fosse Leo.
Ainda assim, consigo resgatar um instante muito bem conseguido, logo no começo do filme: Francine reaprende a caminhar sozinha pela pequena localidade onde decidiu relançar a sua vida, ouve-se (em off) uma música metal, da pesada. Perguntamo-nos se este é um "truque de montagem" para expressar a tempestade de coisas que se passam na cabeça daquela mulher. A resposta suspende-se, enquanto a câmara de Cassidy e Shatzky, o casal de realizadores, permanece colada à divagação de Francine... A dúvida desfaz-se quando entra no quadro um concerto ao ar livre, com uma dúzia de pessoas a assistir, cada uma sentido à sua maneira aquela sonoridade primitiva. Francine procura "integrar-se" nesta assistência heterogénea e aqui sentimos o mal-estar físico (= desarticulação do corpo e da mente), a "falta de ar" desta pessoa que já não sabe ser livre e que receia não ir a tempo de se "reinventar". É um momento espantoso - o mais delicado que vi até agora, no IndieLisboa - que nos faz lembrar que até nos filmes fracos - no caso, fraco no sentido de anémico ou esquelético - podemos ser surpreendidos por lampejos da grande arte do cinema.
("Francine" passou hoje, dia 20 de Abril, no S. Jorge, dentro da competição internacional. Repete já amanhã, dia 21, na Culturgest, às 19h15. Tem Melissa Leo, mas não é "Frozen River", nem nada que se pareça. Contudo, se quiser comprar um bilhete para assistir a uma cena brilhante com 5 ou 6 minutos, então tem a minha benção cinéfila.)
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