sábado, 27 de abril de 2013

Un enfant de toi (2012) de Jacques Doillon


Doillon ensaia aqui uma espécie de conjugação perfeita entre o "cinema adulto" de Rivette e Rohmer e o regresso ao microcosmo infantil do seu filme mais visto e amado, o belíssimo "Ponette". Quando se aproxima desses dois grandes mestres do cinema francês, torna-se verboso e afectado, quando se reencontra ao lado da criança no filme, fá-lo de modo pálido e automático, sobretudo por comparação  com o que alcançara no filme citado. Ao mesmo tempo, estamos a falar de uma história sobre afectos, emoções, sexo e procriação que se prolonga por mais de duas horas repetindo ad nauseam as mesmas hesitações existenciais das suas personagens ou digerindo, com indisfarcável auto-comprazimento, os jogos psicológicos que vão ligando e desligando as personagens entre si, numa espécie de role playing constante, muito teatralizado, que mexe e remexe na dimensão privada daquelas figuras mas que não consegue, nem por um minuto, envolver-nos no seu mundo.

A intimidade parece ser o único tema na vida destas personagens, de tal modo que, a certa altura, sem ironia perceptível, a mulher acusa o pai da sua filha de estar sempre a falar de sexo. Até aí, importa que o leitor perceba, esta personagem não pára um segundo com os seus presunçosos jogos de sedução. Será que trabalha? Percebemos no início que sim, num museu, mas todo o filme se desenrola em registo monotemático, obcecado pela intimidade mas desastradamente avesso a qualquer forma de intimismo (ou mesmo de erotismo). "Un enfant de toi" tem para oferecer, assim, mais de duas horas em jeito de novela burguesa, que é só escrita, que se arrasta em pequenos (pequenos, não! Intermináveis!) episódios, autênticos set pieces encenados sem chama por Doillon e interpretados sem convicção pelos seus actores (salvo a doce criança, claro, que não tem culpa nenhuma).

("Un enfant de toi" passou hoje, dia 27, na secção Observatório. Volta a passar dia 28, num domingo, às 19h, no Cinema City Classic Alvalade. Uma xaropada pretensiosa que não recebe o meu aval.)

Sem comentários:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...