domingo, 28 de abril de 2013
The Unknown (1927) de Tod Browning
Filme mudo de Tod Browning protagonizado por Lon Chaney, na pele de Alonzo, o "homem sem braços", e com uma ainda muito jovem Joan Crawford, dando corpo (corpo completo) a Nanon, a sua assistente no espectáculo de circo. Filme sobre impotência e castração masculinas que usa uma linguagem "de mãos" para simbolizar a incapacidade do "freak maneta" de conquistar o coração dessa jovem deslumbrante. Esta queixa-se da forma como os homens lhe "põem as mãos em cima", exaspera com os assédios impertinentes de Malabar, o homem de braços indestrutíveis, capaz de dobrar ferro com uma "perna atrás das costas". Bem, chega de insistir nos segundos sentidos: "The Unknown" é uma brutal fábula sobre a relação do corpo com a comunicação, ou melhor, sobre a relação do corpo com o amor.
A insistência de Nanon no horror que as mãos de Malabar lhe causam, na primeira parte do filme, antecede a fetichização erótica que esta acabará por fazer dessa parte do corpo masculino, no final do filme. Entre um gesto e outro, entre o ódio e o amor, a repulsa e atracção, a história de Alonzo vai sendo jogada por um Tod Browning requintadamente malvado. A sequência em que Alonzo se apercebe do erro monumental que cometeu - que não posso revelar aqui - ficará nos anais da história do cinema como uma das mais impressivas composições dramáticas realizadas por um actor. A cara de Chaney rebenta num riso diabólico para depois "cair em si", num abismo psicológico de onde nunca mais conseguirá sair - quem conseguiria sair? Na sala, ouvi também risos histéricos, mas houve outrossim - logo a seguir - o silêncio mais angustiado. "The Unknown" é, então, um filme sobre mutilações, incompletudes, impotências insanáveis que partem do corpo para depois atacarem, a frio, o coração mais quente.
("The Unknown" foi exibido hoje, dia 28, na Cinemateca Portuguesa, dentro da secção Director's Cut do IndieLisboa. É um dos clássicos habituais na programação da casa-mãe do cinema, por isso, se não o viu, aguarde por nova reposição.)
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